Psicologia Transpessoal, a 4ª.força em Psicologia
A Psicologia Transpessoal surgiu nos EUA em 1969, a partir do encontro de Abraham Maslow, Stanislav Grof e outros importantes psicólogos e teóricos da época como: Antony Sutich, Carl Rogers, Viktor Frankl e James Fadiman. O novo movimento, imediatamente atraiu vários seguidores graças ao prestígio de Maslow na comunidade científica norte-americana, e conseguiu avanço tão rápido que, no mesmo ano foi fundada a Associação de Psicologia Transpessoal (Transpersonal Psychology Association).
Maslow a certa altura de sua trajetória, efetuou diversas críticas ao que chamava de “duas forças majoritárias da psicologia no século XX: o Behaviorismo ou Psicologia Experimental (“Primeira força”) e a Psicanálise (“Segunda força”)”. Essas críticas tiveram grande repercussão entre intelectuais norte-americanos.
Maslow não aceitava considerar os seres humanos como animais complexos que simplesmente respondiam a estímulos ambientais. Criticou as conclusões que eram obtidas a partir da observação do comportamento dos animais para os seres humanos, pois, mesmo reconhecendo sua utilidade na determinação de pontos em comum, acreditava que era inútil para entender ou modificar comportamentos complexos como a culpa, as alterações de humor, o idealismo e outros, tipicamente humanos e não encontrados nos animais. Maslow valorizava mais as experiências interiores, negadas pelo Behaviorismo. A psicanálise foi por ele criticada principalmente pelo que chamava “ênfase na doença e no indivíduo doente”. Para ele, Freud ao basear-se principalmente nas suas observações de doenças, no comportamento de indivíduos doentes e no que existia de pior nos seres humanos, forçosamente conduziria a uma visão distorcida da natureza humana. “Como Freud forneceu-nos a metade doente da psicologia, devemos agora preencher a outra metade saudável”, dizia Maslow.
A Psicologia Humanista, terceira força da psicologia, foi uma transição, uma preparação para uma força ainda maior, a quarta força da psicologia, a Psicologia Transpessoal, centrada mais no interior do Ser e no Cosmos, que nos desejos e interesses do Ego, além do humano, da identidade, da atualização do ser e do resto. Se a Psicologia Humanista agregou importantes conquistas no conhecimento em torno do ser, faltou ainda integrar a dimensão espiritual. Isso veio logo em seguida, com a Psicologia Transpessoal. Como Maslow, precursor das duas correntes, mencionou: “considero a Psicologia Transpessoal mais elevada, transumana, centrada mais na relação do ser com o cosmo, indo além do humanismo, da identidade, da individuação”. Os fundadores da Psicologia Transpessoal tinham as suas bases na ancestralidade oriental em torno do Espírito e com as bases lançadas por teóricos como: Fritjof Capra, Carl Gustav Jung, Pierre Weil e Roberto Assagiogli.
A Psicologia Transpessoal tratou de estudar a consciência, que dissolve a aparente fronteira entre o “eu e o mundo exterior”, em que desaparece o Ego e surge uma vivência além do mesmo. Reside no reconhecimento da espiritualidade e das necessidades transcendentais, com aspectos intrínsecos da natureza humana e no direito de cada indivíduo de escolher o seu caminho. A integração da dimensão espiritual possibilita um enorme avanço da Psicologia em direção à essência do ser, que preexiste e sobrevive a morte. As experiências místicas e mediúnicas deixaram de ser consideradas patologias e revelaram novas formas de se perceber a vida e de se relacionar com o mundo. Diversos temas e conceitos passaram a ser mais amplamente discutidos e desmistificados. A dimensão espiritual do ser (antes atributo exclusivo das religiões), o estado alterado de consciência, os níveis de consciência (do “sono” a “consciência cósmica”), experiências de vidas passadas, experiências de quase morte e os fenômenos mediúnicos, são alguns deles. Buscava integrar à psicologia, as vivências espirituais e as experiências chamadas “transpessoais”, caracterizadas por um estado de consciência superior, com todas as experiências anteriores do indivíduo e a condução do ser humano em direção à transcendência.
Seus protagonistas se colocaram numa posição diferente da adotada pelas mais importantes escolas de psicologia ocidental, as quais eram propensas a considerar qualquer forma de religião ou de espiritualidade, como baseada em superstições primitivas, aberrações patológicas ou falsas crenças a respeito da realidade, inculcadas pelo sistema familiar e cultural. Reconheciam a existência de estados de consciência diferentes dos estados de consciência habituais, chamados inicialmente de “estados culminantes” e depois de “estados transpessoais”, como importantes no desenvolvimento humano, e que deveriam, segundo eles, serem procurados, provocados e estimulados para possibilitarem o estudo da espiritualidade na vida humana, cuja falta impossibilitava a criação de modelos que unissem a psicologia e a espiritualidade. Entretanto, era claro que se tratava de uma nova abordagem psicológica, científica, lançando pontes entre a ciência e a religião.
As mudanças radicais que foram introduzidas na visão científica do mundo pelas teorias de Einstein sobre a Relatividade e da Teoria Quântica foram seguidas por revisões igualmente profundas, ocorridas em outras disciplinas, na mesma época. Essas revisões foram o mote inicial para que a abordagem transpessoal se abrisse no intuito de iniciar diálogos e lançar pontes com diversas áreas do conhecimento, como sociologia, economia, antropologia, etnologia, educação, negócios, teoria sistêmica, comunicação, ética, ecologia, etc. Grof afirmava que, a partir da incorporação dessas ideias, “novas conexões foram sendo estabelecidas entre a Psicologia Transpessoal e a emergente visão científica do mundo, que ficou conhecida como ‘novo paradigma’ científico”. As diversas terapias transpessoais permitiram acessar uma dimensão interior que ainda não tinha sido explorada pela psicologia: a dimensão do sagrado. Foram recuperadas para a ciência psicológica, a medicina sagrada dos povos primitivos e as técnicas corporais, utilizadas para obter a experiência mística, visando à viagem ao interior do ser. Nesse contexto, também foram utilizadas as diversas formas de meditação, ioga e as múltiplas experiências de expansão da consciência.
Como essa aproximação da psicologia com a espiritualidade era entendida como um processo de auto-realização humana, que envolvia: autoconhecimento, análise do inconsciente individual, exploração do inconsciente coletivo, arquétipos dominantes na psique, conhecimento, relacionamento e participação social, política e ecológica e o conhecimento de Deus; esses três estágios (relacionamento consigo, com o outro e com Deus) eram as necessidades prioritárias para a realização completa do ser humano. O não cumprimento de algum dos itens citados acima mantinha o homem incompleto, portanto, sujeito à angústia, à ansiedade e à sensação de incompletude. Realizando essas atividades pessoais, o homem evolui através da consciência e atinge um estágio em que se encontra diante do transcendente. O próximo passo lógico seria então mergulhar nesse transcendente e recuperar a dimensão espiritual, cuja falta é entendida como uma das grandes causas da crise pela qual passamos no nosso planeta hoje.
Não é função do psicólogo ser o mestre espiritual do seu cliente, nem do mestre espiritual ocupar o lugar do psicoterapeuta. Ao psicólogo compete apenas observar que a espiritualidade esteja como parte integrante da psique, sem ser encarada como patologia ou anormalidade. Carl Gustav Jung foi uma das notáveis exceções, que reconheceu a espiritualidade como um aspecto integral da natureza humana, e uma força vital na vida humana.
Bases Teóricas da Psicologia Transpessoal
A 4ª.força da Psicologia contempla os seguintes aspectos estruturais: Unidade, Vida, Ego, Estados e Níveis de Consciência.
- Unidade do Ser – é o Espírito, base indivisível que sobrevive a tudo o que se esvai. O que nós somos acima do Ego em que estamos. E existe também a Unidade Cósmica, também chamada de Deus, Inteligência Suprema, etc. Na Psicologia Transpessoal é fundamental que o ser se sintonize primeiro com sua própria unidade fundamental (o seu próprio Espírito), manifestando suas possibilidades e potencialidades. Essa união é importante para que, com o desenvolvimento da sua consciência, possa alcançar a Unidade Cósmica (Deus) como forma de conquistar e preservar a sua saúde. As manifestações religiosas, no seu sentido moral, passam a ser uma necessidade vital para o indivíduo, considerando a sua origem espiritual e a Força Criadora do Universo que nele se encontram incutidos, aguardando o campo fecundo para se desenvolverem. Esse intelecto-moral em forma de culto à arte, à ciência, à filosofia e à religião, se expressa numa busca de integração da sua consciência com a Consciência Cósmica (Deus).
- Vida – a partir da ótica “Transpessoal” a vida ganha uma nova dimensão, mais ampla e mais profunda. Com o advento da Reencarnação e centrada no Espírito, a vida passa a ser apenas mais uma das várias experiências de morrer e renascer. A crença da Reencarnação provém desde as antigas tradições orientais, na Índia, na Ásia e no Egito. A psicologia, neste prisma, amplia consideravelmente o seu ângulo de visão, libertando-se de algumas premissas que a distanciava da verdadeira compreensão da psique. Os esclarecimentos em torno do Inconsciente individual e coletivo, dos arquétipos, do homem em toda a sua complexidade, seu passado, seu descobrimento e a possibilidade do seu vir a ser, num futuro sem fim, possível. Com a pluralidade das existências, os conflitos e traumas rompem o círculo estreito de uma única experiência existencial, e passam a ser analisados, não somente como originários desta vida, mas também de outras passadas. Ódios injustificáveis, doenças congênitas, fobias sem causas aparentes, etc; poderão ser desvendados sem terem origens na vida presente, através da hipnose regressiva.
- Ego – na visão “Transpessoal”, o Ego é uma identidade parcial do indivíduo, cujo papel é conduzi-lo a uma relação profunda com a sua Unidade do Ser e a Unidade Cósmica. O Ego é necessário para operacionalizar a vida cotidiana, material. A pessoa deve ter consciência de que tem um corpo, mas não é o corpo; tem emoções, mas não são somente as suas emoções. As psicoterapias ocidentais são dirigidas para o Ego, buscando principalmente tornar consciente o inconsciente, fortalecer o Ego, contribuir para o desenvolvimento de uma autoimagem mais precisa. A Terapia Transpessoal busca ir além do egocêntrico, do sucesso e da auto realização, propiciando que a pessoa reconheça, dialogue e integre-se com a sua essência, sentindo o seu Ser essencial, se identificando com o seu todo, sua realidade espiritual e divina.
- Estados de Consciência – a Consciência é a expressão e o reflexo de uma inteligência cósmica que permeia todo o Universo e toda a existência. Cada ser percebe a realidade cósmica de acordo com seus padrões de energia, de acordo com o seu nível de consciência, perante a existência. Grandes místicos da história, através da meditação, oração, mediunidade e dedicação profunda ao próximo, vivenciaram profundas experiências de estado alterado de consciência. Consciência mais ampla, de forma mais saudável e responsável, somente é conquistada através da melhoria das nossas atitudes perante a vida. A Consciência proporciona uma conquista passo a passo, à medida que o ser conquista a si mesmo. A iluminação interior procede da busca do vir a ser, harmonizando-se com o ser já conquistado. Aqueles com maior capacidade de concentração, de reflexão e de vida interior, mais facilmente irão iluminar-se.
- Níveis de Consciência – partindo do principio de que em relação ao nosso aproveitamento das possibilidades existentes e disponíveis em nossa vida e em nosso mundo inconsciente, nós estamos dormindo – “sono”; e que o oposto, referente ao mais completo aproveitamento, poderíamos chamar de “consciência cósmica”, podemos classificar os diferentes níveis de consciência em:
5.1. Consciência dormindo sem sonho – quando a pessoa vive basicamente para cumprir os fenômenos fisiológicos: comer, beber, dormir, se agasalhar, se proteger (teto), reproduzir-se e atender aos prazeres sensoriais vinculados ao Ego. Apenas os fenômenos orgânicos instintivos se exteriorizam, sem nenhum despertamento da consciência. O individuo não tem consciência dos valores adormecidos no seu inconsciente e da sua realidade psicológica. Através das suas experiências existenciais (vidas sucessivas) é que ele começará a desenvolver essa percepção.
5.2. Consciência dormindo com sonho – quando começa a existir um pequeno diálogo entre a sua consciência e o seu inconsciente, proporcionando-lhes alguns aprendizados, descobertas, insights, conhecimentos. Embora ainda sob o domínio dos instintos e impulsos controlando as suas ações, mas com um suave despertar para o equilíbrio, disciplina e harmonia interna. Realidade ainda difusa, desarmônica, desequilibrada, que se perde em relação à desejada e idealizada por ela mesma. A pessoa já começa a se sentir culpada toda vez que transgredi a sua crença, iniciando aí, de forma muito embrionária, a reflexão sobre as suas ações, ínfimo inicio da reforma íntima.
5.3. Consciência dormindo acordada – à medida que vão aumentando as descobertas, os aprendizados e os insights, decorrentes dos agora frequentes diálogos entre a sua consciência e o seu inconsciente, e por ainda se achar muito mais envolvida pelas questões materiais e ligada ao Ego (sucessos, aquisições, poder, etc) do que pelas suas questões íntimas, a pessoa leva um bom tempo nesse nível de consciência. Até descobrir que existem questões mais eternas, duradouras e mais prioritárias, compatíveis com a verdadeira realidade transpessoal, e que estão esquecidas e deixadas pra segundo plano, e que precisam ser cuidadas e desenvolvidas; daí, somente através de uma vontade grande e de grande determinação pessoal, é que a pessoa consegue avançar rumo a descoberta da finalidade da sua vida, de uma percepção mais intuitiva, mais ampla, mais elevada e mais espiritualizada da vida e das aspirações que lhe são essenciais. À medida que amadurece nesse apostolado, avança para o próximo nível.
5.4. Transcendência do eu – quantos homens e mulheres entregaram suas vidas por ideais que vieram a beneficiar grande parte da Humanidade? Uma pessoa pode optar por experimentar esse nível de consciência em decorrência de alguma necessidade, fato, situação, trabalho, emoção, etc. Porém, o mais importante disso tudo, estando também nesse nível, é a sua revisão interior, a sua transformação íntima para melhor, a sua reforma íntima. Nunca sair o mesmo que entrou.
5.5. Consciência Cósmica – quando o ser atinge a perfeita identificação com a consciência cósmica, com os ideais superiores da vida, é porque já cumpriu todas as etapas evolutivas do Universo e não tem mais o que aprender. Não é possível descrever as características deste nível, por não haver uma experiência pessoal que o tenha feito. Aquele que quiser descobrir, deverá o fazer por conta própria, por esforço próprio. Já tivemos quem o tenha feito e que nos orienta para o caminho a seguir. Mas nós, de nossa parte, por ainda não nos encontrarmos nesse nível, ainda estamos aprendendo no nosso nível, sem muito compreender o que o nosso irmão desse nível nos quer dizer. Mesmo assim estamos evoluindo, passo a passo, e um dia chegaremos aqui. É demorado, mas não é impossível!