A palavra Alexitimia é de origem grega e composta de:
– O “A” tem um sentido de negação, de falta ou de ausência;
– O “lexi” significa palavra;
– O “timos” significa emoção ou sentimento.
Literalmente, a Alexitimia pode ser traduzida como “sem palavras para sentimento”.
Quando trabalhavam em Boston, no Harvard Medical School, na década de 60, os psiquiatras John Nemiah e Peter Sifneos perceberam que alguns pacientes psicossomáticos mostravam uma grande dificuldade em descrever suas próprias emoções e sentimentos, dando a impressão de não compreenderem o significado dessas palavras. Sifneos então, em 1972, criou a palavra “Alexitimia” para expressar esse comportamento.
Alexitimia foi definida então como um modelo criado para relacionar as pesquisas e observações de ocorrências como essas (pessoas que não conseguem expressar seus sentimentos), com os enquadramentos teóricos existentes até o momento, ou seja, um conceito resultante da síntese de um conjunto de hipóteses e ideias, envolvendo três principais componentes:
(a) grande dificuldade de expressar e descrever sentimentos e diferenciá-los de sensações corporais;
(b) uma capacidade extremamente precária de fantasiar e imaginar;
(c) um estilo cognitivo utilitário, desprovido de emoções e sentimentos, baseado no concreto e orientado externamente, também conhecido como pensamento operacional.
Os “alexes” ou “alexitímicos” como são chamadas essas pessoas, costumam relacionar suas sensações físicas aos seus sintomas físicos. Por exemplo, após sofrer uma forte emoção, o alexitímico irá reclamar de uma dor de cabeça ou de fadiga, e não saberá relatar de forma clara o que realmente sentiu.
No Brasil a Alexitimia ainda é relativamente desconhecida, mas na Europa é algo que vem gerando um crescente número de pesquisas, existindo instrumentos de medição já traduzidos e adaptados para vários países.
A dificuldade de expressar e descrever sentimentos – Alexitimia, não deve ser confundida com a ausência de sentimentos – Atimia. Embora com menor incidência em relação à Alexitimia, a Atimia foi identificada em muitos relatos de alguns criminosos condenados a longos anos de prisão, à prisão perpétua ou mesmo à morte, que não eram capazes de demostrar nenhuma reação emocional, mesmo quando suas sentenças eram proferidas pelo juiz. Também no caso de umas crianças romenas, descobertas após a ruptura da URSS, que foram criadas em orfanatos sem cuidados adequados, que fez com que elas se tornassem incapazes de desenvolver laços emocionais afetivos com os que posteriormente as adotaram. Trata-se de um tipo de “ausência emocional” que impede as pessoas de expressarem as várias emoções que todo ser humano normal sente. Esse distúrbio também é identificado em 50% dos pacientes com autismo.
Causas
Não há consenso sobre o que causa a Alexitimia. Existe uma parte dos cientistas que a associam a algum trauma cerebral, defeitos na formação neurológica, outra nas influências socioculturais, e outra numa origem psicológica, decorrente de traumas na formação infanto-juvenil, ou mesmo depois.
Quando a Alexitimia foi classificada pela primeira vez, em 1972, os cientistas criaram uma tese na qual existiria um rompimento na comunicação entre os dois hemisférios cerebrais, impedindo que os sinais das regiões emocionais (localizadas no lado direito), chegassem às áreas de linguagem (do lado esquerdo), causando uma paralisia emocional. Isso vem de encontro a outras teses, derivadas de pesquisas, que explicam outras desordens do fluxo emocional. Em 2008, pesquisadores italianos também encontraram suporte para essa hipótese. No fluxo emocional deficiente do alexitímico, os circuitos neuronais não alcançam essas regiões de forma adequada, indicando um fluxo que no máximo realiza processos cognitivos inconscientes, havendo ausência de conscientização da emoção, que é a característica básica da Alexitimia.
Outros cientistas defendem a tese de que ela é desenvolvida, isto é, ela surge a partir e durante as interações da pessoa com seus entes mais próximos, principalmente no seu período de formação. Um problema de funcionamento cerebral, uma disfunção cerebral aprendida, uma vez que o cérebro não é desenvolvido igualmente em todas as pessoas e são necessários muitos anos de desenvolvimento pós-natal para que uma pessoa madura venha a se formar. Esses anos exigem a participação de outras pessoas na formação do futuro adulto, as quais ajudam a criança a aprender a identificar e regular suas emoções. Isso é primariamente executado pela mãe ou pela pessoa mais próxima que desempenhe esse papel, a qual necessita estar “sintonizada” com as necessidades da criança. Da mesma forma que existe o impulso genético da mãe para gerar e criar, existe a necessidade genética da criança em ser “criada”, isto é, em ser cuidada durante a fase em que ela ainda não pode se cuidar sozinha. A ausência ou negligência nesses cuidados prejudica o desenvolvimento social e emotivo da criança. Uma das possíveis consequências dessa negligência pode ser atribuída a Alexitimia.
A criança não só não aprende a desenvolver sentimentos conscientes, como aprende a evitar a conscientização das emoções, a partir da emoção negativa de uma dor, consequência de sua necessidade não atendida, negligência, etc; a qual pode ser manifestada na expressão “nunca vou amar alguém, para não ter que sofrer”. Nesse caso, a Alexitimia pode ser considerada também, como uma característica de personalidade, aprendida e derivada de um estilo de enfrentamento emocional, desenvolvido durante o processo de formação inadequado. Ao invés de aprender a perceber e regular suas emoções de forma positiva, criando “bons sentimentos”, a criança prefere omitir-se e abster-se, optando por trazer reflexos negativos para sua saúde e seus relacionamentos futuros.
Sintomas
Os alexitímicos podem ter uma sensação vaga de que estavam sob o domínio de uma forte emoção (uma tristeza chorosa, ou uma ira raivosa), mas, em geral, ficam perdidos quando tentam identificar a causa dessas emoções. Não conseguem imaginar o que estimulou o seu humor, a sua disposição, as suas emoções. Às vezes tem uma sensação desconfortável de algo que mudou no seu corpo (aumento da frequência cardíaca, dor de cabeça ou uma má sensação no estômago), e quando solicitado a descrever seus sentimentos, eles não conseguem identificar, ficam sem palavras, às vezes dão uma resposta vaga ou simplesmente mudam de assunto.
É frequente a pessoa trocar a expressão física da emoção por uma expressão física de doença, por exemplo, as lágrimas no rosto tornam-se um defeito no canal lacrimal; o coração acelerado de paixão vira um problema de válvula defeituosa; ou um aperto de ansiedade no estômago, uma apendicite.
Para os alexitímicos, os estados emocionais podem ser atribuídos às influências adversas do ambiente, como uma mudança no barômetro, tóxicos no ar, ou um colchão desconfortável. É importante uma clara compreensão desta perturbação, até porque leva a uma comunicação precária, de percepção de si mesmo e dos outros, com tremendos impactos nos relacionamentos (família, relações conjugais, trabalho, etc), e entender que nestas pessoas, as manifestações emocionais são geralmente indiferentes, vagas e não específicas.
Pesquisas mostram que os alexitímicos:
– Têm fraca percepção de suporte social e rede social, em face da fraca habilidade social e propensão a desenvolverem problemas psicossomáticos, como a hipertensão;
– São pessoas vulneráveis a desenvolverem alguma desordem de personalidade, como narcisismo ou TOC;
– Tem processo decisório limitado. Decidir significa escolher entre opções e essa escolha se ampara em emoções conscientizadas, imaginação, motivação, desejos e metas, e isso é deficitário nele, ou seja, “ele não sabe o que quer”;
– Estão mais expostos ao risco de morte por doença;
– Por usarem ações e canais corporais para expressar suas emoções, são falhos na comunicação afetiva e mostravam excessivo nível de conformidade social;
– São incapazes de produzir fantasias e durante as entrevistas ficam “presos” aos aspectos mundanos e operacionais de sua realidade (o que foi chamado de “pensamento operacional”);
– Não se percebe desajustado e quase sempre resiste a qualquer tratamento que lhe é oferecido.
Tratamentos
Entender as causas desta perturbação, muitas vezes associada a perturbações psicossomáticas e doenças físicas em geral é importante para escolher a psicoterapia mais adequada a estas pessoas, devendo em geral ser orientada para a melhoria do seu bem-estar social e psicológico. A terapia convencional tem pouco ou nenhum efeito sobre ele. Mas, pode-se prever que terapias específicas, baseadas em processos de reeducação e reaprendizagem emocional venham a ser desenvolvidas para corrigir essa deficiência funcional cerebral aprendida.
Como a EFT pode ajudar?
Como trabalhar a EFT com pessoas que não conseguem expressar suas emoções e seus sentimentos, se a base da técnica requer a Emoção relacionada a um Evento Específico ocorrido em um Problema? Com base na tese de que a Alexitimia pode ser gerada a partir dos maus cuidados na infância ou decorrente de traumas do passado remoto ou atual, acredito na possibilidade de explorar esses maus cuidados e traumas do passado, de modo a desenvolver, resgatar e intensificar no alexitímico, a sua capacidade de sentir emoções e relacioná-las as palavras que as definem. Assim como podemos com a EFT intensificar o desempenho em qualquer atividade, não é impossível buscarmos a intensificação da percepção das emoções e a sua identificação e caracterização, através da diminuição ou da eliminação da apatia, da indiferença e outros aspectos insensíveis consequentes dos maus cuidados e traumas do passado. Como as emoções e sentimentos fazem parte do contexto do Corpo Emocional eletromagnético que nos compõe, acredito sim, que exista a possibilidade de alterá-lo. Não se trata de um desafio pequeno e nem de curto prazo, mas não impossível!