A enxaqueca é um dos tipos de cefaleia – dor de cabeça – que se caracteriza por uma dor latejante e pulsátil, cuja intensidade, apesar de variável, na maioria dos casos é de moderada a severa. Pode se constituir em uma sensação de “pressão para fora”, como se a cabeça fosse explodir. Varia de crise para crise e raramente dói sempre no mesmo lugar. Pode ocorrer em qualquer lugar da cabeça, inclusive na região dos dentes, dos seios da face ou da nuca, ou na cabeça inteira. A frequência da dor de cabeça da enxaqueca é muito variável, varia de indivíduo para indivíduo, podendo ser desde uma vez na vida, anuais, mensais, 2 a 4 vezes por semana, todos os dias, e até várias vezes ao dia. Na verdade, existem casos de crises de enxaqueca sem nenhuma dor de cabeça! Nesses casos, a pessoa pode apresentar crises manifestando alguns dos outros sintomas. Não apenas a dor de cabeça da enxaqueca, mas todos os demais sintomas podem ser tão intensos e incômodos, a ponto de impedir que o indivíduo exerça alguma atividade, obrigando-o a ficar deitado, num quarto escuro, em silêncio, durante horas ou dias. O paciente torna-se altamente irritável, preferindo ficar a sós. A enxaqueca pode comprometer não só a qualidade de vida do portador, como da família em torno.
Em cerca de 10 a 15% dos casos, o quadro de dor é precedido ou acompanhado por uma alteração do humor (euforia em alguns casos, depressão e irritabilidade em outros), de apetite (vontade de comer doces ou então perda de apetite), visão embaçada, visão dupla, escurecimento da visão (cegueira parcial) de um ou ambos os olhos, e sensação de estar vendo pontos luminosos, em zigue-zague ou manchas escuras. A esse conjunto de sintomas que antecedem a crise de enxaqueca, dá-se o nome de “aura de enxaqueca”, que detalhamos mais abaixo.
A duração de uma crise de enxaqueca típica varia por volta de 3 horas a 72 horas, podendo ser mais curta em crianças, seguida de um período variável sem nenhuma dor de cabeça. Boa parte das crises de enxaqueca termina com o sono, ou quando a pessoa vomita. Após a crise de enxaqueca o paciente sente-se como se estivesse de ressaca, podendo apresentar, por alguns dias, pouca tolerância para a atividade física e mental.
Segundo o Ministério da Saúde, de 5 a 25% das mulheres e 2 a 10% dos homens tem enxaqueca. A enxaqueca é predominante em pessoas com idades entre 25 e 45 anos, sendo que após os 50 anos essa porcentagem tende a diminuir. A doença ocorre em 3 a 10% das crianças, afetando igualmente ambos os gêneros antes da puberdade, mas com predomínio no sexo feminino após essa fase. No Brasil, é estimado que apenas 56% dos pacientes com enxaqueca procuram atendimento e, destes, apenas 16% se consultam com especialistas em cefaleias. Um estudo feito em duas Unidades Básicas de Saúde (SUS) encontrou prevalência de 45% de enxaqueca nos pacientes com queixa de cefaleia.
Um dos maiores problemas da enxaqueca é que ela pode ser desencadeada por uma série de “gatilhos”, tornando a pessoa tanto mais vulnerável a saídas da rotina, quanto mais agravada estiver a sua doença. Sair de casa em dias muito claros, frequentar lugares aglomerados, passar por emoções fortes, acordar mais tarde que de costume, dormir durante o dia, atrasar refeições, beber uma simples taça de vinho, comer certos pratos como salsicha, chocolate, queijos amarelos, sorvete e até algumas frutas, ainda que em pequena quantidade, já pode ser suficiente para desencadear 3 horas a 3 dias de muita dor e outros sintomas.
Existe uma variante da enxaqueca chamada Cefaléia Em Salvas, diferente da enxaqueca comum, que é tida como a dor mais forte que existe, de acordo com os registros da medicina. Mais forte que dor de cólica renal, do parto, de qualquer outra doença, podendo até levar ao suicídio. Ao contrário da enxaqueca que acomete mais mulheres que homens, a cefaleia em salvas acomete muito mais homens que mulheres.
Enxaqueca com aura
Um dos sintomas curiosos que ocorrem entre 10 a 15% dos casos de enxaquecas, é chamado de “enxaqueca com aura”. A manifestação mais comum da enxaqueca com aura é a chamada de aura visual, que pode se apresentar como flashes de luz, manchas escuras em forma de mosaico ou imagens brilhantes em ziguezague. A pessoa começa a apresentar alucinações visuais: vê luzinhas, estrelinhas, piscando no seu campo visual, ou enxerga linhas tremulas em ziguezague, que vão aumentando em tamanho e atrapalhando a sua visão, ou causando a perda progressiva da visão, fazendo com que a pessoa passe a enxergar apenas uma parte dos objetos. Ao olhar para um rosto, por exemplo, ela só consegue enxergar meio rosto, e assim por diante. Em outros casos, a enxaqueca com aura pode se manifestar como dormências ou formigamentos em apenas um lado do corpo. Dependendo da gravidade, a pessoa pode começar com um formigamento em uma das mãos e ele se espalhar por todo o lado do corpo, chegando a um formigamento na metade da língua, e/ou nos lábios, e/ou em um dos membros superiores e/ou nos inferiores. A fala passa a ficar pastosa, a pessoa pode não se lembrar das palavras mais comuns. Todo esse fenômeno de aura dura de 20 a 60 minutos, após o qual ele vai regredindo. Assim que a aura passa, a dor de cabeça, ou seja, a crise de enxaqueca começa. Geralmente, a aura termina na dor na crise de enxaqueca, podendo persistir ou não depois que a dor começa. Algumas pessoas podem ter episódios de aura, sem dor de cabeça, e daí a enxaqueca sem dor de cabeça.
Assim a enxaqueca pode ser dividida entre “com aura” ou “sem aura”, e essas em “episódica” ou “crônica”. Segundo dados do Ministério da Saúde, 64% do total dos pacientes que apresentaram enxaqueca sem aura, 18% com aura e 13% com e sem aura. Os restantes 5% apresentaram aura sem dor de cabeça. A enxaqueca crônica se caracteriza por cefaleia em 15 ou mais dias do mês, sendo oito dias com crises típicas por mais de três meses.
Causas
A enxaqueca é uma doença com inúmeras causas, mas algumas delas ainda continuam indefinidas. Por isso, não seria conveniente atribuir como sendo “causas” aos itens relacionados abaixo, passando a chama-los de “gatilhos”, por não estarem ainda devidamente definidos. Portanto, já sabemos que existem alguns “gatilhos” que podem desencadear as crises. O padrão da crise é sempre o mesmo em cada indivíduo, variando apenas na intensidade. O espaçamento entre as crises é variável. Sabe-se também que os gatilhos para as crises variam de indivíduo para indivíduo, sendo que algumas pessoas podem não apresentar nenhum dos gatilhos apresentados. Os gatilhos de enxaqueca mais comuns são:
- Estresse;
- Insônia ou dormir mais ou menos que o costume;
- Consumo desequilibrado de alimentos e bebidas: queijos fortes (amarelos envelhecidos), frutas cítricas (principalmente laranja, limão, abacaxi e pêssego), carnes processadas, embutidos, frituras e gorduras em excesso, chocolates, açúcar, café, chá e refrigerantes à base de cola, aspartame (presente em adoçante artificial), glutamato monossódico (tipo de sal usado principalmente em comida chinesa) e excesso de bebidas alcoólicas;
- Jejum prolongado;
- Perfumes e outros odores muito fortes;
- Fumo;
- Alterações hormonais, mais comuns nas mulheres, nas fases menstruais;
- Mudanças bruscas de temperatura e umidade;
- Esforço físico demasiado;
- Luzes e sons intensos;
- Abuso de medicamentos, incluindo analgésicos.
É importante observar que a enxaqueca não vem de males do fígado como muitos acreditam. Embora muitos que adquirem enxaqueca depois de comer certos alimentos, esse fato não quer dizer que o fígado pode ser o responsável pela causa da enxaqueca.
Sintomas
Entre os sintomas de enxaqueca estão:
- Bocejos – costumam ocorrer antes da crise. São bocejos incontroláveis;
- Dor latejante e pulsátil, geralmente unilateral, de intensidade moderada a forte;
- Náuseas e vômitos;
- Fotofobia – hipersensibilidade à Luz – a pessoa não aguenta ficar na claridade ou mesmo expor-se a uma quantidade normal de luz, preferindo um lugar completamente escuro;
- Hiperacusia – hipersensibilidade ao som – qualquer barulho incomoda mesmo a voz mais baixa e suave ou a música mais relaxante, preferindo o doente permanecer num ambiente o mais silencioso possível;
- Hipersensibilidade ao couro cabeludo e a face – o simples toque na cabeça já pode doer muito nos indivíduos afetados, tornando dolorosos atos como o de se pentear ou deitar sobre o lado acometido;
- Osmofobia – Hipersensibilidade a odores – prefere evitar qualquer tipo de odor;
- Crises acima com duração de quatro a 72 horas;
- Alteração de Humor (depressão; irritabilidade; agitação, etc);
- Sensação de fraqueza, tontura e desânimo – fraqueza nos braços e nas pernas. Falta de energia;
- Alteração da pressão arterial – para cima ou para baixo, com frequência;
- Sensibilidade ao movimento do corpo ou do ambiente;
- Sensação de cabeça pesada ou leve;
- Tensão na nuca e dor nos ombros – a região da nuca fica tensa e dolorida, os músculos dos ombros e das costas, especialmente a região entre as escápulas, dói e forma nódulos de tensão;
- Inchaço ao redor dos olhos, face ou por todo o corpo – inchaço de pálpebras e rosto, como uma desfiguração.
- Visão embaçada – sua acuidade visual diminui e perde a capacidade de enxergar detalhes.
- Sensação de cisco no olho – sensação de que há um cisco em um ou ambos os olhos.
- Coriza e obstrução nasal (nariz escorrendo ou entupido) – nariz escorrendo, ou entupido.
- Distúrbios de memória e de concentração – se esquecem com facilidade das coisas, dificuldade para encontrar as palavras. Dificuldade para pensar, raciocinar e se concentrar.
- Fala embaralhada – se manifesta por dificuldade em articular, confusão com as palavras, troca de palavras (a pessoa ia falar uma coisa, mas saiu outra). É outro sintoma da chamada aurade enxaqueca. Costuma durar em média 1 hora.
- Diurese excessiva.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico e baseado nas queixas do paciente e no histórico familiar. Seu médico pode querer ter certeza de que não existem outras causas para sua enxaqueca. Assim, é provável que ele faça exames físicos e neurológicos. Além disso, o médico irá fazer perguntas como:
- Você sente dor em qual lado da cabeça?
- Quais os sintomas relacionados à dor?
- Qual a duração desses sintomas?
- Eles acontecem em ambos os lados do corpo?
- Se for algum sintoma visual, como é e em que momento se apresenta?
- Algum desses sintomas aparece antes da dor começar?
- Alguém da família tem enxaqueca ou outros tipos de dores de cabeça?
- Você usa medicamentos como pílulas anticoncepcionais ou vasodilatadores?
- Sua dor de cabeça começa depois que você faz muito esforço, ou após tossir ou espirrar?
Para definir o diagnóstico da enxaqueca, basta que a dor esteja acompanhada por três ou quatro dos sintomas abaixo:
- Crise de cefaleia durando de quatro a 72 horas (tratamento fracassado ou não realizado);
- Cefaleia tendo pelo menos duas das seguintes características: unilateral, pulsátil, dor de intensidade moderada a intensa, dor agravada ou impedindo atividade física rotineira (caminhada, subir escadas, etc);
- Durante a cefaleia, ocorrência de pelo menos um destes sintomas: náusea e vômitos, fotofobia e “fonofobia”;.
- Nenhum outro diagnóstico que explique a cefaleia;
- Pelo menos duas crises com a presença de sintomas da aura, como pontos luminosos ou perda e embaçamento da visão, formigamento, dormência e fraqueza no corpo e dificuldade na fala.
Tratamento
O tratamento da enxaqueca leva em consideração as características da dor e a frequência das crises. O objetivo é suprimir os sintomas e evitar a incidência de novos eventos. Nos episódios agudos, os analgésicos comuns, eventualmente associados a outras drogas, podem representar uma solução eficaz contra a dor, especialmente se tomados assim que surgirem os primeiros sintomas. No entanto, é preciso cuidado: o uso repetido de remédios, o abuso de analgésicos e o aumento progressivo das doses necessárias para alívio da dor, podem resultar no agravamento dos sintomas.
Está comprovado que mudanças no estilo de vida e evitar os gatilhos que disparam as crises, são procedimentos indispensáveis para a prevenção da enxaqueca.
- Controlar o seu nível de estresse;
- Reservar tempo para o lazer e relaxamento;
- Praticar alimentação equilibrada e regular;
- Evitar alimentos e bebidas que você já identificou que possam provocar enxaqueca;
- Reduzir o consumo diário de cafeína;
- Estabelecer horários para deitar-se e levantar-se;
- Praticar exercícios físicos regularmente;
- Praticar Ioga ou Meditação;
- Jejum prolongado pode gerar crise de enxaqueca.
São medidas que ajudam a diminuir a frequência e a intensidade das crises.
Tratamento com a EFT
O tratamento através da EFT ocorrerá baseado em fatos históricos, baseado em lembranças de crises passadas, por ser completamente impossível efetuá-lo durante uma crise. Seria um transtorno ainda maior para a pessoa durante a crise.
Como fase inicial padrão da minha abordagem com a EFT de modo geral, primeiro é necessário conhecer um pouco mais da pessoa, seus costumes, sua forma de pensar e agir, com as situações do dia a dia. Como é a sua relação com o trabalho e com as atividades em que participa. Seu comportamento e costumes corriqueiros.
Em seguida vou buscar conhecer melhor como tem sido as intensidades da(s) crise(s) e como a pessoa vem reagindo a elas. Se a pessoa estiver com alguma dor de qualquer natureza, trataremos prioritariamente, para que a mesma se sinta a vontade durante a sessão. Muitos dos gatilhos os quais mencionamos no item Causas da matéria acima podem trazer práticas e condutas motivadas por uma série de pensamentos, sentimentos e emoções embutidas, as quais poderão ser fatores geradores das crises e também serão de muita valia para o tratamento com a EFT. Será investigada também a possibilidade da incidência ou se existem resquícios de outras doenças aliadas as crises de Enxaqueca (ansiedade, depressão, pânico, por exemplo). Mas, buscaremos mais efetivamente direcionar a nossa investigação na identificação e caracterização das possíveis causas que o levaram a(s) crise(s) já ocorrida(s), investigando:
- Quando se deu a primeira crise?
- Qual a frequência em que ocorrem, se vem ocorrendo?
- Que fatos relevantes lhe vêm à lembrança, quando ocorreu a primeira crise?
- Que cenas ou imagens lhe vêm à lembrança, quando esses fatos ocorreram?
- E nas demais crises? Existiram fatos ou emoções intensas que ocorreram próximos de quando a crise ocorreu?
- Existiu algum tipo de sentimento ou emoção relevante, intensa, que lhe vem à mente, quando se lembra dessas crises?
Investigando mais outros detalhes desse contexto, nós buscaremos identificar o que tem por traz e o que deu origem as crises, para então, efetuarmos as rodadas direcionadas e obtermos os resultados esperados. É lógico que isso varia de pessoa pra pessoa, de caso a caso, de situação a situação. Cada ser humano, caso ou situação tem as suas peculiaridades. Mesmo que haja dificuldade em se lembrar de fatos, ocorrências e emoções relacionadas, na EFT existem técnicas alternativas para contornarmos esse problema e chegarmos aos mesmos resultados.